Um
balão paira pelo ar, porém não é um balão qualquer, de festa junina
ou de um grupo de baloeiros. É um balão grande, um enorme balão, robusto,
brilhante, caro. Na verdade não é balão, melhor dizendo, é um Zeppelin.
É um Zeppelin, isso mesmo!! Um Zeppelin igualzinho ao da capa do Led
Zeppelin só que esse ainda não pegou fogo. Entretanto os ventos que
esse balão ou, desculpe, digo, Zeppelin nos traz são de gigantesca
destruição. Tudo começou quando ele chegou ao país, pois devido a
distância a qual se encontrava do seu planeta de origem teve que utilizar
seu hiperpropulsor atômico para chegar aqui no Brasil, que dizer!!
Melhor, ou pior, ainda veio parar na cidade mais babilônica do país,
o nosso, ou nossa, ainda não descobri seu sexo, Rio de Janeiro. Esses
ventos causaram tanta destruição e atingiram tamanha velocidade que
chegaram a arrancar árvores , postes, casas, torres elétricas, carros,
vacas e alcançaram proporção tamanha que foram parar lá em São Paulo.
Mas
enfim, isso tudo é bobagem!! É isso meu cumpadi!! Bobagem
porque a sua presença ainda iria desencadear outras catástrofes babilônicas.
Pois logo depois dos ventos a estrutura da cidade nunca mais seria
a mesma. Para comprovar, um prédio na Rua do Rosário caiu,
desabou, desmoronou, se escafedeu enfim se escaralhou pelo
chão deixando vários feridos e dois mortos. Nisso, rapidamente foram
acionados os bombeiros e até mesmo o povo que passava por ali, que
é “burro” e “alienado”, ajudou voluntariamente, não, não, essa palavra
já está muito carregada !! Ajudou solidariamente na retirada dos escombros
na esperança de acharem pelo menos um caco de vida ali embaixo. Em
seguida foi chamado o diretor do CREA-RJ que estava de bobeira
bem ali na outra esquina, olhando para cima para ver se achava o danado
do Zeppelin. Mas no seu depoimento surpreendente disse que o problema
do prédio não foi os ventos que o balão ou (merda eu sempre me esqueço!),
o Zeppelin trouxe, mas sim a obra que estava sendo executada no térreo
do prédio, abalando a sua estrutura. Então, roboticamente os repórteres
perguntaram do porque não haver nenhum fiscal, técnico, engenheiro
ou faxineiro do CREA-RJ fiscalizando aquela maldita obra. Prontamente
o diretor respondeu: _ Porra!! Há mais de uma semana que o pessoal
do prédio, associados e o resto da cidade só ficou olhando para cima
para ver se avistavam aquele caralho voador!! Ou, isto é,
aquele Zeppelin.
No
dia seguinte, passado esse grande distúrbio, a vida iria seguir seu
rumo, rumo?!! Mas que rumo?! Quando cerca de dez homens fortemente
armados trajados de terno e gravata,
seguidores fundamentalistas fanáticos de Osama Beira Mar Laden,
tomaram de assalto uma das agências da banco Bradesco nas intermediações
do prédio que se descaralhou no dia anterior, levando estes uma grana
preta, preta mesmo!! Porque quando ela chega ao banco já tá tão suja
que tem de ser lavada, porém como os larápios, isto é, os religiosos
a levaram não deu tempo nem para o primeiro enxágüe.
Depois
desse ocorrido a cidade deu uma trégua a si mesma e adormeceu por
quase uma semana, claro que as mortes, estupros, assaltos (não religiosos),
acidentes de trânsito continuaram, todavia como isso não faz parte
da vida da elite da cidade, esses fatos também não importam. Como
de um súbito despertar de um pesadelo, nos deparamos que acordamos
em outro bem pior. Já começa logo de manhã cedo, na hora do rush,
quando um super engarrafamento entrava novamente a cidade, como aquele
ocorrido devido a revolta do povo a respeito das inscrições para o
concurso de guarda municipal, aqueles que rappam, digo, guardam os
camelôs e auxiliares de epidemia. Porra!! Hoje tá foda, tô trocando
tudo!! Deve ser a manguaça!! Quis dizer auxiliar de endemia. Mas o
engarrafamento dessa vez não era por causa de gente e sim por causa
de uma caixa, é cumpadi uma senhora caixa!! Na verdade eram várias
caixas que estavam dentro uma caixa maior que pegou fogo por auto
combustão devido à fuligem cósmica que o Salsichão Inflável, retificando,
o Zeppelin deixou no céu, nas proximidades da caixão quando tentava
dar um vôo rasante para capturar uma das companheiras do pagodeiro
Beira Belo Mar. Só que nesse meio tempo a bandida deu uma lesa nos
zeppeleiros, ou melhor, pilotos extraterrestres, e mergulhou com tudo
no edifício em chamas, sendo assim incinerada no ato. Com isso a notícia
chegou de torpedo lá no SPA em Beira Mar, isto é, em Bangu I e novo
governador do estado, eleito pela mídia com 100% de aprovação popular,
não gostou da atuação dos alienígenas baderneiros e mandou espalhar
o terror pela cidade.
A
seqüência dos fatos, acredito que todos nós estamos cientes e não
adianta ficar aqui relatando o que já está em todos os jornais. O
que venho atentar é a gravidade de um problema o qual se estende a
todos os planos institucionais e a falha seqüenciada que os governantes,
por acharem que governam alguma coisa, efetuam. A origem desses fatos
vem desde a formar, como é tratado, o interesse da população até o
auto-genocídio estipulado por esses mesmos “governantes” para o terror
dos próprios cidadãos. Então, se foi realmente uma ação articulada
pelo “poder paralelo”, de que forma eles poderiam se mobilizar, uma
vez que existe uma grande rivalidade entre facções, morros e bandidos
em busca desse mesmo “poder”? Outro ponto importante é a hipótese
levantada pela governadora, que por ser negra e fora do padrão estético
de beleza não é bem quista, a qual diz que essa articulação foi de
conotação política e não só marginal.
A
questão é que quando um fato ocorrido desestrutura toda uma sociedade,
ele acaba não pertencendo somente a esfera política e tem que ser
resolvido pelas esferas institucionais, isto é, cabe agora ao poder
legislativo, executivo e judiciário tomar as devidas providências
em relação a atos que ponham em risco a vida da população. Mas como
não somos bobos percebemos que esses órgãos não estão aí para cumprirem
seus papéis e sim para burocratiza-los, pois na forma de governo em
que somos forçados a viver não existe outro interesse acima ao de
lucrar com qualquer coisa, através de qualquer forma, mesmo aterrorizando
o povo para que se sinta abalado, amedrontado e inseguro às vésperas
da eleição.
Coletivo
de Estudos Anarquistas Domingos Passos, 2002