Fábio
Lopes dos Santos Luz (1864-1938) nasceu em Valença, no sul
da Bahia, onde passou a infância e a adolescência. Entre
1883 e 1888 estudou Medicina em Salvador. Neste período,
já se encontrava envolvido com a propaganda abolicionista
e republicana. Identificava então na ordem imperial o fator
básico da manutenção e ampliação
das injustiças sociais, da miséria e da opressão
política sofridas pelas classes populares, realidade que
já o sensibilizara nos seus primeiros anos em Valença.
Formando-se, veio ganhar a vida no Rio de Janeiro, tendo iniciado
sua atividade profissional na Hospedaria de Imigrantes em Pinheiros.
Além de praticar a medicina, conseguiu um emprego de inspetor
escolar. Mais tarde, com clínica instalada no bairro do Méier,
obteve a admiração e o respeito da comunidade local
pelo desvelo com que tratava os doentes, inclusive aqueles sem recursos,
principalmente nas epidemias que na época assolavam a então
Capital Federal.
Fábio
Luz alinhou-se no anarquismo compondo a corrente do chamado anarquisrmo
libertário, tendência cujos princípios fundamentais
são encontrados no pensamento de Kropotkin, Elisée
Reclus e Malatesta, princípios estes aos quais certamente
adequavam-se suas aptidões pessoais e a particularidade de
sua posição social. Pois sendo um intelectual de classe
média (um “burguês”, como se definia),
e considerado nos meios intelectuais da elite carioca, o médico
baiano não se furtava a militar no anarquismo e a sonhar
com a revolução social, bem em conformidade com aquelas
concepções do comunismo libertário que não
vêem necessariamente a revolução social anticapitalista
e antiestatal como obra a ser realizada apenas por indivíduos
das classes diretamente oprimidas, mas por todos aqueles que se
sensibilizam e tomam posição contra o Estado e o capital.
Guiado por essa perspectiva, Fábio Luz apoiava e participava
das iniciativas dos trabalhadores anarquistas, proferindo conferências
e palestras, escrevendo na imprensa operária, como em “A
Plebe”, “A Vida”, “Voz da União”,
“Spartacus” etc. Um projeto de grande monta a que se
dedicou, na área da educação, foi a instalação
da “Universidade Popular”, voltada basicamente para
a formação científica e política do
proletariado. Embora tenha durado poucos meses, foi uma iniciativa
que agregou nomes respeitados da intelectualidade carioca, como
Elisio de Carvalho, Felisbelo Freire, Rocha Pombo, Evaristo de Morais,
Pedro Couto, José Veríssimo e outros. Ao longo de
décadas de atividade solidária e dedicada à
anarquia, Fábio Luz conquistou assim o reconhecimento dos
companheiros de militância.
Por
outra parte, sempre fiel à idéia anarco-comunista
de que a formação de uma mentalidade anárquica
na sociedade é requisito indispensável para a eclosão
e o sucesso de uma autêntica revolução social,
transformava a literatura em outro campo de educação
política, discussão social e propaganda anarquista.
Para isso, a par de sua colaboração na imprensa ácrata,
desenvolveu uma fértil atividade literária, ao escrever
romances e novelas de temática social e de orientação
anárquica. Foi assim um dos pioneiros do romance social no
Brasil. Entre seus textos literários mais destacados mencionamos
“Ideólogo” e “Os Emancipados”, romances;
e “Nunca” e “Manuscrito de Helena”, novelas.
Após
o marco histórico da Revolução Russa de 1917,
Fábio Luz exerce um papel saliente, ao lado de outros militantes,
particularmente José Oiticica, no combate político
às pretensões dos bolchevistas, os quais disputavam
aos anarquistas a hegemonia dentro do movimento operário
de então. Formando com José Oiticica e outros o grupo
“Os Emancipados”, Fábio Luz participou da fundação
de dois periódicos: “A Luta Social” e “Revolução
Social”. Ambas as publicações apareceram como
um espaço de guerra textual aos bolchevistas. junto com o
grupo “Os Emancipados”.
Até
1938, quando faleceu, Fábio Luz manteve-se apegado aos seus
ideais anarquistas, conforme demonstrava sempre, como quando tomou
posse de uma cadeira na Academia Carioca de Letras, indiferente
à aprovação ou não dos demais. Nos meios
em que conviveu e circulou, aproveitava todas as oportunidades para
fazer a propaganda do anarquismo.